Perspectiva Interna

Para alguns pintores, a tela resultaria em um espaço análogo ao próprio céu, consagrado, venerado, dentro do qual cores e pinceladas se encontrariam em harmonia, de tal maneira que pudessem propiciar efeitos catárticos de purificação e beatitude em seus admiradores.

Em Fortes, contrariamente, a tela resulta em um espaço que tem a cara da Terra, revolta, indômita, com a substância eclodindo por todos os poros em incontidos focos de rebelião cromática; um espaço que a artista deliberadamente transtorna em cor, emoção e forma em incessante estado de tensão e arte. Aqui, a cor descreve continentes de surpreendente geografia e inusitada demarcação. Estamos diante de uma pintura, na qual a antiga reprodução objetiva do mundo real e de suas coisas cedem lugar à suficiente transmissão de sensações.

Destarte, verifica-se em sua obra a transcendência, no campo pictórico, do universo das aparências sensíveis, hierarquizado e longamente celebrado pelo conjunto das Artes Visuais, no universo das cores e formas abstratas, a meu ver, mais especificamente pertinente à pintura, porque é o que lhe empresta autenticidade e autonomia verdadeiras.

As telas de Raimunda Fortes, autênticos sinais contemporâneos de uma interioridade que se quer resgatada, não falam por representação, mas, através de uma paleta que parece estar em constante ebulição, gritando na voz de tons e cores de inquietante cromática.

Couto Corrêa Filho – Poeta e Crítico de Arte

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